segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Escutando sentimentos

Chamamos de atitude amorosa o tratamento benevolente com nosso íntimo através da criação de um relacionamento pacífico com as imperfeições. Desenvolver habilidades benevolentes para consigo é a base da vida saudável e o ponto de partida para o crescimento em harmonia. Amar a si mesmo é o cerne da proposta educativa do Ser na fieira das reencarnações. O aprendizado do auto-amor tem como requisito essencial a descoberta de nossa “identidade cósmica”, ou seja, a realidade do que somos na Obra Incomensurável do Pai, nossa singularidade. A singularidade é a “Marca de Deus” que define nossa história real no trajeto da evolução. É como o Pai nos “conclama” ser na Sua Criação. Importante frisar que a singularidade é o conjunto de caracteres morais e espirituais peculiares à criatura única que somos. Nela se incluem também as mazelas cujos princípios foram colocados no homem para o bem, conforme acentuam os Sábios e Orientadores da codificação. (O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo X – item 10) Quando rejeitamos alguns aspectos dessa “identidade exclusiva”, nasce o conflito, que é a tormenta interior da alma convocada a transformar para melhor sua condição individual. O Doutor Carl Gustav Jung definiu esse movimento da vida mental como sendo individuação, isto é, viver em busca da individualidade, do Si Mesmo. Não se trata de viver o individualismo, o personalismo, mas aprender a ser, permitindo a expressão de suas características divinas latentes e de sua sombra sem as máscaras sociais. Individuação vem do latim indivíduos cujo sentido é “indiviso”, “inteiro”. O progresso pessoal de cada um de nós é a arte de saber integrar os “fragmentos” da vida íntima, harmonizando-os para que reflitam as leis naturais de cooperação, trabalho e liberdade. Somente vibrando na freqüência do amor, esse movimento educativo da alma plenifica-se sem a angústia e o martírio – patrocinadores de longas e dolorosas crises nesse caminhar evolutivo.

sábado, 5 de novembro de 2016

Memórias de um suicida

No ano de 1944, a médium Yvonne do Amaral Pereira, orientada pelos Espíritos Bezerra de Menezes e Charles, dirigiu-se à Federação Espírita Brasileira, levando dois livros, de sua lavra mediúnica, para exame, no intuito de posterior publicação. No topo da escadaria principal, encontrou o Sr. Manuel Quintão, na época, um dos diretores e examinadores das obras literárias que chegavam à Federação. Tão logo tentou explicar o seu objetivo, teve cortada a sua palavra por ele que lhe afirmou que ali somente entravam livros mediúnicos de Francisco Cândido Xavier. Ademais, ele estava muito ocupado, tinha duzentos livros para examinar, traduzir e não dispunha de tempo para mais… Recém-chegada ao Rio de Janeiro, a médium ficou chocada. Mesmo a tentativa favorável do Dr. Carlos Imbassahy, a seu favor, naquele momento, resultou inexitosa. O Sr. Quintão se manteve na mesma posição. Yvonne se retirou. Pensou que poderia se tratar de uma grande mistificação e, assim, chegando à sua residência, tomou de uma caixa de fósforos e dos originais dos dois livros e se dirigiu ao quintal, a fim de os queimar, pois nem mesmo tinha um local conveniente para guardá-los. Ao riscar o fósforo, viu, no entanto, o braço e a mão de um homem, transparentes e levemente azulados estendidos, como num gesto de proteção às páginas. Ao seu ouvido, uma voz assustada lhe dizia que esperasse e guardasse as obras. Ela identificou a voz como sendo a de Bezerra de Menezes. Transcorrido algum tempo, em certa manhã, enquanto orava, o Espírito Léon Denis, o grande apóstolo do Espiritismo, se lhe apresentou e lhe disse que um dos livros estava incompleto e ele ali estava para o refazer. E, naquele mesmo momento, começou a grande revisão e complementação da extraordinária obra Memórias de um suicida. Yvonne entendeu, então, que o Sr. Quintão havia sido inspirado pelos amigos espirituais para não receber o livro, quando ela fora à Federação. O Espírito Camilo, que o escrevera, não o completara devidamente, não lhe dera feição doutrinária, o que, agora, Léon Denis vinha fazer. Concluída a revisão, Yvonne retornou à Federação, que frequentava semanalmente. Paternalmente recebida pelo Presidente, Dr. Wantuil de Freitas, tendo-lhe narrado o que sucedera da primeira vez, recebeu dele os parabéns pela sua postura. Dispôs-se a analisar as obras, com espírito de atenção e fraternidade. Contudo, uma outra dificuldade agora se apresentou: era necessário fosse tudo datilografado, para maior comodidade do exame. Como Yvonne não dispunha de uma máquina de escrever, muito menos de dinheiro para adquiri-la, nem a quem recorrer para empréstimo de uma, guardou novamente os manuscritos. Decorreram sete anos até ela ser presenteada com o instrumento por um sobrinho seu, de nome César Augusto. Por isso, somente no ano de 1954, ela voltou à Federação para entregar a sua produção mediúnica. É desse mesmo ano a primeira edição. A obra descreve a condição do Espírito que busca a desencarnação através do suicídio. Focaliza as experiências tormentosas vividas por esse, para que reflitamos nas consequências de tal ato. Em sua primeira parte, relata os padecimentos do Espírito, após a desencarnação voluntária, relacionando as regiões, os seus habitantes e os sofrimentos atrozes a que são arrastados. São os réprobos do Vale dos Suicidas, onde Camilo Cândido Botelho, por seu gesto suicida, foi parar, a partir de 1º de junho de 1890. O nome é, em verdade, o pseudônimo de Camilo Castelo Branco, romancista português fecundo e talentoso, senhor de cultura muito vasta. Narra o trabalho de resgate e socorro dos irmãos infortunados, pelos Servos de Maria, descrevendo o local do recolhimento, o tratamento e as impressões vividas pelos assistidos. Descrições minuciosas desses lugares desfilam pelas mais de quinhentas páginas, detalhes que a médium via e ouvia nitidamente. Descreve ela que era levada, por Camilo e outros amigos espirituais, ao convívio do mundo invisível e tudo lhe era narrado, mostrado, exibido à sua faculdade mediúnica para que, ao despertar, maior facilidade encontrasse para tudo colocar no papel. Yvonne, na Introdução do livro explica a forma como viu, sentiu, viveu as cenas e as transcreveu. No prefácio da segunda edição, o compilador espiritual Léon Denis fala da revisão que se impunha e escreve que se, procurando esclarecer o público, por lhe facilitar o entendimento de fatos espirituais, nem sempre conservei a feitura literária dos originais que tinha sob o olhos; no entanto, não lhes alterei nem os informes preciosos nem as conclusões, que respeitei como labor sagrado de origem alheia. O livro é, com certeza, o mais extraordinário tratado a respeito do suicídio, suas terríveis consequências ao Espírito e, se traduz os sofrimentos escabrosos dos que se entregam a esse ato, acena com a esperança de que os que assim partiram, recebem auxílio espiritual para a recomposição de suas personalidades. Informação preciosa é fornecida de que é Maria de Nazaré, esse ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternas a Jesus, o Cristo, quem tem sob sua guarda esses infelizes. Por isso desfilam as descrições do Hospital, a Colônia Correcional, a Torre de Vigia, os Departamentos de Reconhecimento e Matrícula, o Hospitalar, tudo sob a atenção dos Servos de Maria. Narra o trabalho mediúnico realizado em vários Centros Espíritas no Brasil, no auxílio aos suicidas. A esses discípulos de Allan Kardec, Camilo denomina Nossos amigos. Focaliza os trabalhos de instrução necessários para uma nova reencarnação, onde todos buscarão a reabilitação perante as leis da Natureza. Bibliografia: 1.PEREIRA, Yvonne A. Dados biográficos de Yvonne A. Pereira para a Federação Espírita Brasileira. In.:___. À luz do consolador. Rio de Janeiro: FEB, 1997.