terça-feira, 27 de novembro de 2012

A erraticidade




Enquanto as almas desprendidas das influências terrenas se constituem em grupos simpáticos, cujos membros se amam, se compreendem, vivem em perfeita igualdade, em completa felicidade, os Espíritos que ainda não puderam domar as suas paixões levam uma vida errante, desordenada e que, sem lhes trazer sofrimentos, deixa-os, contudo, mergulhados na incerteza e na inquietação. É a isso que se chama erraticidade; é a condição da maioria dos Espíritos que viveram na Terra, nem bons nem maus, porém ainda fracos e muito inclinados às coisas materiais.
Encontram-se na erraticidade multidões imensas, sempre agitadas, sempre em busca de um estado melhor, que lhes foge. Numerosos Espíritos aí flutuam indecisos entre o justo e o injusto, entre a verdade e o erro, entre a sombra e a luz. Outros estão sepultados no insulamento, na obscuridade, na tristeza, sempre à procura de uma benevolência, de uma simpatia que podem encontrar.
A ignorância, o egoísmo, os vícios de toda espécie reinam ainda na erraticidade, onde a matéria exerce sempre sua influência. O bem e o mal aí se chocam. É de alguma sorte o vestíbulo dos espaços luminosos, dos mundos melhores. Todos aí passam e se demoram, mas para depois se elevarem.
O ensino dos Espíritos sobre a vida de além-túmulo faz-nos saber que no espaço não há lugar algum destinado à contemplação estéril, à beatitude ociosa. Todas as regiões do espaço estão povoadas por Espíritos laboriosos. Por toda parte, bandos, enxames de almas sobem, descem, agitam-se no meio da luz ou na região das trevas. Em certos pontos, vê-se grande número de ouvintes recebendo instruções de Espíritos adiantados; em outros, formam-se grupos para festejarem os recém-vindos. Aqui, Espíritos combinam os fluidos, infundem-lhes mil formas, mil coloridos maravilhosos, preparam-nos para os delicados fins a que foram destinados pelos Espíritos superiores; ali, ajuntamentos sombrios, perturbados, reúnem-se ao redor dos globos e os acompanham em suas revoluções, influindo, assim, inconscientemente, sobre os elementos atmosféricos. Espíritos luminosos, mais velozes que o relâmpago, rompem essas massas para levarem socorro e consolação aos desgraçados que os imploram. Cada um tem o seu papel e concorre para a grande obra, na medida de seu mérito e de seu adiantamento. O Universo inteiro evolui. Como os mundos, os Espíritos prosseguem seu curso eterno, arrastados para um estado superior, entregues a ocupações diversas. Progressos a realizar, ciência a adquirir, dor a sufocar, remorsos a acalmar, amor, expiação, devotamento, sacrifício, todas essas forças, todas essas coisas os estimulam, os aguilhoam, os precipitam na obra; e, nessa imensidade sem limites, reinam incessantemente o movimento e a vida. A imobilidade e a inação é o retrocesso, é a morte. Sob o impulso da grande lei, seres e mundos, almas e sóis, tudo gravita e move-se na órbita gigantesca traçada pela vontade divina.

Léon Denis  -  Depois da Morte


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Miragens


Eram encargos normais, saudáveis: cuidar dos filhos, dirigir o lar, instruir a doméstica, efetuar compras.  Mas Zilda aborrecia-se.  Sentia-se frustrada.  Ninguém parecia reconhecer seu esforço.  Além do mais, sonhava trabalhar fora, ter seu próprio dinheiro, freqüentar uma Faculdade, alargar horizontes...
Irritava-se com frases pomposas, tipo "rainha do lar" ou "doadora da Vida”, que lhe pareciam engodos masculinos para estimular a submissão das mulheres.
Resolveu consultar um psicólogo, desses modernos, idéias arejadas, "prá-frente'... Expôs-lhe suas angústias.
- Minha cara Zilda - orientou o profissional, enfático. - Seu problema fundamental é aprender a gostar um pouco de si mesma!  Solte-se!  Conquiste seu espaço!
- O senhor tem razão!  Anseio por vôos mais altos, além da rotina... No entanto, estou amarrada.  Os encargos domésticos são numerosos.  A família precisa de mim.  Alguém deve ficar na retaguarda...
- Esqueça!  No momento é preciso cuidar de seu bem-estar.  Ninguém deve ser mais importante do que você mesma!  Liberte-se!  Seja autêntica!  Exercite suas próprias asas!
Sob orientação do psicólogo Zilda começou a mudar.  Encontrou tempo para o massagista, o tratamento de beleza, a ginástica.  Importante afinar a silhueta, rejuvenescer.. Em breve matriculou-se em curso de nível superior, conseguiu emprego de meio expediente, entrosou-se com novas amigas, igualmente "avançadas” ...
Sem tempo para o lar, este começou a apresentar problemas.  O desleixo tomou conta, os filhos foram descuidados.  O esposo, perplexo, indagou-lhe o porquê de tantas mudanças...
- É preciso cuidar de mim mesma.  Tenho sido uma escrava.  Chegou o tempo de minha libertação.  Vocês se virem !...                     
Empolgada pela própria audácia, Zilda distanciou-se progressivamente da família até que, concluindo que precisava de mais espaço, partiu para cidade distante, integrada em serviço promissor.  Aparecia apenas nos fins de semana, visita em sua própria casa.  Era preciso cuidar de si mesma!
Todavia, não chegou a parte alguma, alienada das realidades mais simples, perdida em caminhos tortuosos.  Embora livre para movimentar-se, jamais se libertou da angústia e da insatisfação, nem da impertinente sensação de que talvez fosse mais feliz 'como humilde "rainha do lar?

No dicionário da Vida, felicidade é sinônimo de doação.  Por mais sofisticadas e brilhantes sejam as idéias não resolveremos o problema de nossa estabilidade Intima, nem nos realizaremos como filhos de Deus, enquanto pensarmos muito em nós mesmos. Quem se fecha em si, sufoca-se em estreitos limites, ainda que se julgue na amplidão.
Os movimentos feministas são respeitáveis quando reivindicam os direitos da mulher como ser humano, com aspirações inerentes à sua condição.  Cometem, entretanto, grave engano quando, pretextando sua libertação, a induzem a aborrecer-se com os encargos domésticos, negligenciando as sagradas tarefas da maternidade, em que a mais nobre, a mais sublime de todas as missões lhe é confiada: preparar os filhos para a Vida, tarefa que lhe confere o supremo encargo de colaboradora de Deus.


Se fomos reunidos aqui e agora aos seres com os quais convivemos, é este, portanto, o melhor tempo de
solucionarmos comportamentos inconvenientes, posturas de vida intransigentes e promover
transformação interior, fatores imprecindíveis para o crescimento de nossa alma.

Hammed