quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sono e aspectos do desprendimento




Releva, contudo, assi­nalar que, em se iniciando a criatura na produção do pensamen­to contínuo, o sono adquiriu para ela uma importância que a consciência em processo evolutivo, até aí, não conhecera.
Usado instintivamente pelo elemento espiritual, como re­curso reparador, no refazimento das células em serviço, seme­lhante estado fisiológico carreou novas possibilidades de realização para quantos se consagrassem ao trabalho mais amplo de desejar e mentalizar.
Ansiando livrar-se da fadiga física, após determinada quota de tempo no esforço da vigília diária e, por isso mesmo, entregue ao relaxamento muscular, o homem operante e indaga­dor adormecia com a idéia fixada a serviços de sua predileção.
Amadurecido para pensar e lançando de si a substância de seus propósitos mais íntimos, ensaiou, pouco a pouco, tal como aprendera, vagarosamente, o desprendimento definitivo nas operações da morte, o desprendimento parcial do corpo sutil, durante o sono, desenfaixando-o do veículo de matéria mais densa, embora sustentando-o, ligado a ele, por laços fluídico-mag­néticos, a se dilatarem levemente dos plexos e, com mais segu­rança, da fossa rombóide.
Encetado o processo de sonolência, com as reações moto­ras empobrecidas e impondo mecanicamente a si mesma o descanso temporário, no auxílio às células fatigadas de tensão, isto desde as eras remotas em que o pensamento se lhe articulou com fluência e continuidade, permanece a mente, através do corpo espiritual, na maioria das vezes, justaposta ao veículo fí­sico, à guisa de um cavaleiro que repousa ao pé do animal de que necessita para a travessia de grande região, em complicada viagem, dando-lhe ensejo à recuperação e pastagem, enquanto ele se recolhe ao próprio íntimo, ensimesmando-se para refletir ou imaginar, de conformidade com seus problemas e inquieta­ções, necessidades e desejos.
 — Dessa forma, aliviando o controle sobre as células que a servem no corpo car­nal, a mente se volta, no sono, para o refúgio de si mesma, plasmando na onda constante de suas próprias idéias as imagens com que se compraz nos sonhos agradáveis em que saca da me­mória a essência de seus próprios desejos, retemperando-se na antecipada contemplação dos painéis ou situações que almeja concretizar.
Para isso, mobiliza os recursos do núcleo da visão supe­rior, no diencéfalo, de vez que, aí, as qualidades essencialmente ópticas do centro coronário lhe acalentam no silêncio do desner­vamento transitório todos os pensamentos que lhe emergem do seio.
Noutras ocasiões, no mesmo estado de insulamento, reco­lhe, no curso do sono, os resultados de seus próprios excessos, padecendo a inquietação das vísceras ou dos nervos injuriados pela sua rendição à licenciosidade, quando não seja o asfixiante pesar do remorso por faltas cometidas, cujos reflexos absorvem do arquivo em que se lhe amontoam as próprias lembranças.
Numa e noutra condição, todavia, é a mente suscetível àinfluenciação dos desencarnados que, evoluídos ou não, lhe vi­sitam o ser, atraidos pelos quadros que se lhe filtram da aura, ofertando-lhe auxílio eficiente quando se mostre inclinada à as­censão de ordem moral, ou sugando-lhe as energias e assopran­do-lhe sugestões infelizes quando, pela própria ociosidade ou intenção maligna, adere ao consórcio psíquico de espécie avil­tante, que lhe favorece a estagnação na preguiça ou a envolve nas obsessões viciosas pelas quais se entrega a temíveis contra­tos com as forças sombrias.
         Mas dessa posição de espectador à função de agente exis­te apenas um passo.
O pensamento contínuo, em fluxo insopitável, desloca-lhe a organização celular perispiritual, à maneira do córrego que em sua passagem desarticula da gleba em que desliza todo um rosá­rio de seixos. E assim como os seixos soltos seguem a direção da corrente, lapidando-se no curso dos dias, o corpo espiritual acompanha, de início, o impulso da corrente mental que por ele extravasa, conscienciando-se muito vagarosamente no sono, que lhe propicia meia-libertação.


Evolução em Dois Mundos
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira

Ditado pelo espírito André Luiz


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