sábado, 18 de agosto de 2012

O amor

O amor, qualquer que seja o mundo em que se esteja, é a força, o eixo das esferas que gravitam em suas órbitas. Na natureza, nos infinitamente pequenos, é o amor, antes de tudo, que guia o instinto. No homem, na sociedade inteira, é o amor que forma as simpatias, que torna possíveis as relações dos humanos entre si. Seja qual for a expressão sob a qual o queiram deformar, seja qual for o nome com que o ridiculizem, se analisardes um pouco, encontrareis sempre o amor, o amor mais ou menos purificado, que existe em todo ser. Ele é o centro, a causa. Reina no lar. É sobre suas fiadas que se constrói a família, a família que perpetua, no tempo e no espaço, a longa série dos séculos, marcando o progresso das humanidades. E é também o amor que rege as amizades sólidas.


Constituís uma força poderosa, quando as mesmas idéias, o mesmo ardente desejo do bem vos animam. A força fluídica que vos cerca é considerável, e se, de sua resistência, o granito vos pode dar idéias, o cristal, em cujas facetas se vem irisar a luz, poderá fazer-vos perceber-lhe a incomparável pureza.

Desde o menor até o maior, amai; e, em vossos corações, em vossas almas, correrá a fonte de vida. Sim, é necessário amar ainda, amar sempre, ensinando, continuando a propagar, em toda a sua grandeza, a filosofia que encerra o porquê dos destinos humanos. Trabalhai a terra; deixai que nela entre a relha do poderoso arado do amor e, um dia, as messes louras germinarão ao sol radiante do futuro. Propagai sem descanso. Propagai amando.

Eduardo Petit 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A tarefa do missionário



A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização às suas profundas bases religiosas. Atento à missão de concórdia e fraternidade da América, o plano invisível localizou aí as primeiras manifestações tangíveis do mundo espiritual, no famoso lugarejo de Hydesville, provocando os mais largos movimentos de opinião. A fagulha partira das plagas americanas, como partira igualmente delas a consolidação das conquistas democráticas. A Europa busca ambientar as idéias novas e generosas, que encontram o discípulo no seu posto de oração e vigilância, pronto a atender aos chamamentos do Senhor. Numerosos cooperadores diretos da sua tarefa auxiliam-lhe o esforço sagrado, desdobrando-lhe as sínteses em gloriosos complementos. O orbe, com as suas instituições sociais e políticas, havia atingido um período de grandiosas transformações, que requeriam mais de um século de lutas dolorosas e remissoras, e o Espiritismo seria a essência dessas conquistas novas, reconduzindo os corações ao Evangelho suave do Cristianismo.

A Caminho da Luz
Chico Xavier
por Emmanuel

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Romance na vida



No campo, em que o luar engrinalda a escumilha,
O par freme de amor, a noite dorme e brilha.
Ele, o poeta aldeão, era humilde pastor;
Ela, a fidalga, expunha a mocidade em flor.
Ao longe da mansão, quantos beijos ao vento!…

Quantas juras de afeto à luz do firmamento!

Em certa noite, a eleita envia antigo pajem

Que entrega ao moço ansioso imprevista mensagem.
“Perdoe – a carta diz – se não lhe fui sincera
Desposarei agora o homem que me espera.
Nunca deslustrarei o nome de meus pais.
Nosso amor foi um sonho… Um sonho. Nada mais.”

Chora o moço infeliz, sem ninguém que o conforte,
Surdo à razão, anseia arrojar-se na morte.
Corre à choça de taipa. A gesto subitâneo,
Arma-se em desespero e arrasa o próprio crânio.


Foi-se o tempo… E, no Além, o menestrel suicida
Era um louco implorando um novo corpo à vida.

Um dia, a castelã, no refúgio dourado,
Morre amargando, aflita, as lições do passado.

Pendem alvos jasmins do féretro suspenso,
Filhos clamam adeus em volutas de incenso.

Largando-se, por fim, dos enfeites de prata,
Sente-se agora a dama envilecida e ingrata.

Lembra o campo de outrora e o pobre moço aldeão,
Pede para revê-lo e rogar-lhe perdão.

Encontra-o, finalmente, em vasta enfermaria,
Demente, cego e mudo em angústia sombria.
Ela suporta em pranto a culpa que a reprova,
Quer voltar para a Terra e dar-lhe vida nova.

A eterna Lei de Amor no amor se lhe revela,
Retorna ao corpo denso em aldeia singela.

Hoje, mãe a sofrer, fina-se, pouco a pouco,
Carregando no colo um filho mudo e louco…
E enquanto o enfermo espraia o olhar triste e sem brilho,
Ela vive a rogar:

 “Não me deixes, meu filho!…”

O romance prossegue e os momentos se vão…
Bendita seja a dor que talha a perfeição.



Quatro anos antes, no livro Na Era do Espírito (Editora GEEM, 1973), composto em parceria com J. Herculano Pires, Chico Xavier consignou o poema intitulado “Romance na vida”, de autoria de Alphonsus de Guimaraens, que retrata a história pretérita de um menino excepcional cuja mãe se encontrava presente na sessão em que o poema foi psicografado.

Autismo



O que iremos narrar, tão fielmente quanto possível, ouvimos num sábado à noite “Grupo Espírita da Prece”, logo após o contato fraterno com os irmãos que residem nas imediações da Mata do Carrinho, o novo local onde as nossas reuniões vespertinas estão sendo realizadas.
Um casal aproximou-se ao Chico, o pai sustentando uma criança de ano e meio nos braços, acompanhando por distinto medico espírita de Uberaba.

A mãe permaneceu a meia distância, em mutismo total, embora com alguma aflição no semblante.
O médico, adiantando-se, explicou o caso ao Chico: a criança, desde que nasceu, sofre sucessivas convulsões, tendo que ficar sob o controle de medicamento, permanecendo dormindo a maior parte do tempo, em consequência, mal consegue engatinhar e não fala.
Após dialogarem durante alguns minutos. O Chico perguntou ao nosso confrade a que diagnostico havia chegado.

- Para mim, trata-se de um caso de autismo – respondeu ele.
O Chico disse que o diagnostico lhe parecia bastante acertado, mas que convinha diminuir o anticonvulsivos mesmo que tal medida, a principio, intensificasse os ataques. Explicou, detalhadamente, as contra indicações do medicamento no organismo infantil. Recomendou passes.
- Vamos orar- concluiu.

O casal saiu visivelmente mais confortado, mas, segurando o braço do médico nosso confrade. Chico Explicou a todos que estavamos ali mais próximos:
- “o autismo”, é um caso muito sério, podendo ser considerado uma verdadeira calamidade. Tanto envolve crianças quanto adultos... Os médiuns também , por vezes, principalmente os solteiros sofrem desse mal, pois que vivem sintonizados com o mundo espiritual, desinteressando-se da Terra.
“É preciso que alguma coisa nos prenda no mundo, porque, senão, perdemos a vontade de permanecer no corpo...”.E Chico exemplificou com ele mesmo:
-Vejam bem: o que é que me interessa na Terra? A não ser a tarefa mediúnica, nada mais. Dinheiro, eu só quero o necessário para sobreviver casa, eu não tenho o que fazer com mais de uma... Então, eu procuro me interessar pelos meus gatos e meus cachorros. Quando um adoece ou morre, eu choro muito, porque se eu não me ligar em alguma coisa eu deixo vocês...
Ele ainda considerou que, muitos casos de suicídios têm as suas raízes no “autismo”, porque a pessoa vai perdendo o interesse pela vida. Inconscientemente deseja retornar à Pátria Espiritual, e para se libertar do corpo, que considera uma verdadeira prisão, força as portas de saída...
E o Chico falou ao médico:

- È preciso que os pais dessa criança conversem muito com ela, principalmente a mãe. È necessário chamar o espírito para o corpo. Se não agirmos assim, muitos espíritos não permaneceram na carne, porque a reencarnação para eles é muito dolorosa.
Evidentemente que não conseguimos registrar tudo, mas a essência do assunto é o que está exposto aqui.
E ficamos a meditar na complexidade dos problemas humanos e na sabedoria de Chico Xavier.
Quando ele falava de si, ilustrando a questão do “autismo”, sentimo-lo como um pássaro de luz encarcerado numa gaiola de ferro, renunciando à paz da grande floresta para entoar canções de imortalidade aos que caíram, invigilantes, no visgo do orgulho ou no alçapão da perturbação.
Nesta noite, sem dúvida, compreendemos melhor Chico Xavier e o admiramos ainda mais.
De fato, pensando bem, o que é que pode interessar na Terra, a não ser o trabalho missionário em nome do Senhor, ao Espírito que já não pertence mais à sua faixa evolutiva?
O espírito daquela criança sacudia o corpo que convulsionava, na ânsia de libertar-se...
Sem dúvida, era preciso convencer o Espírito a ficar. Tentar dizer-lhe que a Terra não é cruel assim... Que precisamos trabalhar pela melhoria do homem.


Fonte:
Chico Xavier, à sombra do abacateiro/ Carlos Antonio Baccelli- São Paulo: Instituto Divulgação Editora André Luiz, 1986, pag. 8.
Imagem Google.

Criança excepcional



"- A criança excepcional sempre me impressionou, pelo sofrimento de que ela é portadora, não somente em se tratando dela mesma, mas também dos pais, e isso tem sido tema de várias conversações minhas com Emmanuel, que é Guia Espiritual de nossas tarefas. Ele então disse que em regra geral, a criança excepcional é o suicida reencarnado. Reencarnado depois de suicídio recente , porque a pessoa quando pensa que se liquida, está apenas estragando ou perdendo a roupa de que a Providência Divina permite que se sirva durante a existência, que é o corpo físico, a verdade é que ela em si é um corpo espiritual; então, os remanescentes do suicídio acompanham a criatura que praticou autodestruição para a vida do mais além. Lá, ela se demora algum tempo, amparada por amigos, que toda criatura tem afeições por toda parte; mas, volta à terra com os remanescentes que levou daqui mesmo, após o suicídio. Se uma pessoa espatifou o crânio e o projétil atingiu o centro da fala, ela volta com a mudez; se atingiu o centro da visão, volta cega, mas se atingiu determinadas regiões mais complexas do cérebro, vem em plena idiotia e aí os centros fisiológicos não funcionam. A endocrinologia teria de fazer um capítulo especial para estudar uma criança surda, muda, cega, paralítica, porque aí a criatura seria uma vida no santuário da vida, que é a parte mais delicada do cérebro. Se ela suicidou-se, mergulhando em águas profundas, vem com a disposição para o efizema infantil ou da mocidade nos primeiros dias de vida; se ela se enforcou, vem com a paraplegia, depois de uma simples queda, que toda criança cai (do colo da ama, do colo da mãezinha); então, quando o processo é de enforcamento, a vértebra que foi deslocada vem mais fraca e, numa simples queda, a criança é acometida pela paraplegia. E nós vemos por aí outras crianças que vem completamente perturbadas: a esquizofrenia, por exemplo, diz-se do suicídio depois do homicídio. O complexo de culpa adquire dimensões tamanhas que o quimismo do cérebro se modifica e vem a esquizofrenia como uma doença verificável, porque através dos líquidos expelidos pelo corpo é possível detectar os princípios de esquizofrenia; mas o esquizofrênico é o homicida que se fez suicida, porque o complexo de culpa é tão grande, o remorso é tão terrível que aquilo reflete na próxima vida física da criatura durante algum tempo ou muito tempo."