domingo, 22 de abril de 2012

Caminho verdade e vida - Emmanuel




Fonte Viva

"Se um irmão parece desviado aos teus olhos mortais, faze o possível por ouvir as palavras de Jesus ao pescador de Cafarnaum: “Que te importa a ti? Segue-me tu.”

"Quando te sentires cansado, lembra-te de que Jesus está trabalhando. Começamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós, desde quando?"

"É contra-senso valer-se do nome de Jesus para tentar a continuação de antigos erros."

"Se teu próximo não pode alçar-se ao plano espiritual em que te encontras, podes ir ao encontro dele, para o bom serviço da fraternidade e da iluminação, sem aparatos que lhe ofendam a inferioridade."

"Conforto espiritual não é como o pão do mundo, que passa, mecanicamente, de mão em mão, para saciar a fome do corpo, mas, sim, como o Sol, que é o mesmo para todos, penetrando, porém, somente nos lugares onde não se haja feito um reduto fechado para as sombras."

"Em Cristo tudo deve ser renovado, O passado delituoso estará morto, as situações de dúvida terão chegado ao fim, as velhas cogitações do homem carnal darão lugar a vida nova em espírito, onde tudo signifique sadia reconstrução para o futuro eterno."

"Os desejos aviltantes, os impulsos deprimentes, a ingratidão, a má-fé, o traço do traidor, nunca foram da carne."

"Se queres que Jesus venha santificar as tuas atividades, endireita os caminhos da existência, regenera os teus impulsos. Desfaze as sombras que te rodeiam e senti-Lo-ás, ao teu lado, com a sua bênção."

"Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a obra da elevação de si mesmo, valendo-se da auto-disciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício."

"Os que afirmam apenas na forma verbal que o Mestre se encontra aqui ou ali, arcam com profundas responsabilidades. A preocupação de proselitismo é sempre perigosa para os que se seduzem com as belezas sonoras da palavra sem exemplos edificantes."

"O discípulo sincero sabe que dizer é fácil, mas que é difícil revelar os propósitos do Senhor na existência própria. É imprescindível fazer o bem, antes de ensiná-lo a outrem, porque Jesus recomendou ninguém seguisse os pregoeiros que somente dissessem onde se poderia encontrar o Filho de Deus."

"Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no umbral de todos os templos religiosos do mundo, perguntando, com interesse, aos que entram: “Que buscais?”

"Deus é o Pai magnânimo e justo. Um pai não distribui padecimentos. Dá corrigendas e toda corrigenda aperfeiçoa."

"Haja, pois, suficiente cuidado em nós, cada dia, porquanto o bem ou o mal, tendo sido semeados, crescerão junto de nós, de conformidade com as leis que regem a vida."

"Não nos esqueçamos, pois, de que é sempre fácil assinalar a linguagem do Senhor, mas é preciso apresentar-lhe o coração vazio de resíduos da Terra, para receber-lhe, em espírito e verdade, a palavra divina."

"A união fraternal é o sonho sublime da alma humana, entretanto, não se realizará sem que nos respeitemos uns aos outros, cultivando a harmonia, à face do ambiente que fomos chamados a servir. Somente alcançaremos semelhante realização “procurando guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz.”

"Ninguém progride sem renovar-se."

"Pregadores que não gastam e nem se gastam pelo engrandecimento das idéias redentoras do Cristianismo são orquídeas do Evangelho sobre o apoio problemático das possibilidades alheias; mas aquele que ensina e exemplifica, aprendendo a sacrificar-se pelo erguimento de todos, é a árvore robusta do Eterno Bem, manifestando o Senhor no solo rico da verdadeira fraternidade."

"Afastemo-nos das nossas inibições e aprendamos com o Cristo a “sair para semear”.

"Vives sitiado pela dor, pela aflição, pela sombra ou pela enfermidade? Renova o teu modo de sentir, pelos padrões do Evangelho, e enxergarás o Propósito Divino da Vida, atuando em todos os lugares, com justiça e misericórdia, sabedoria e entendimento."

"É preferível que a morte nos surpreenda em serviço, a esperarmos por ela numa poltrona de luxo."

"Quando plantares a alegria de viver nos corações que te cercam, em breve as flores e os frutos de tua sementeira te enriquecerão o caminho."

"Transforma as tuas energias em bondade e compreensão redentoras para toda gente, gastando, para isso, o óleo de tua boa-vontade, na renúncia e no sacrifício, e a tua vida, em Cristo, passará realmente a brilhar."

"Se há mais alegria em dar que em receber, há mais felicidade em servir que em ser servido."

"Tua vida pode converter-se num manancial de bênçãos para os outros e para tua alma, se te aplicares, em verdade, ao Mestre do Amor. Lembra-te de que não és tu quem espera pela Divina Luz. É a Divina Luz, força do Céu ao teu lado, que permanece esperando por ti."

Emmanuel



Conta Marcel Souto Maior, no saboroso "As vidas de Chico Xavier" que, "o ano de 1931 foi movimentado para Chico. E triste. Cidália morreu em março. Pouco antes de ir embora, chamou o enteado e fez um pedido: ele deveria evitar que João Cândido se desfizesse, novamente, dos filhos - seis dela e nove do primeiro casamento.
Ah, mãe, fique despreocupada. Eu prometo que, enquanto minha última irmã não estiver casada, minha missão no lar
não terá acabado.
Depois da promessa, o apelo.
Não vá embora, não. Com quem vou conversar sobre minhas visões? Quem vai acreditar em mim?
Num último esforço, Cidália o consolou.
Tenho fé de que você ainda há de encontrar aquelas pessoas do arco-íris* e elas vão te entender mais do que eu.
Chico se sentia sozinho apesar das visitas esporádicas da mãe e das sessões no Centro Luiz Gonzaga. Para escapar do coro dos céticos, ele arrastava os pés pelas ruas de terra do arraial e, com os sapatos sempre frouxos, tomava o rumo do açude. Aquele era seu refúgio. Ali, ele se encolhia à sombra de uma árvore, na beira da represa, encarava o céu e rezava ao som das águas. Em 1931, o bucolismo da cena deu lugar ao fantástico.
O rapaz teve sua conversa com Deus interrompida pela visita de uma cruz luminosa. Franziu os olhos e percebeu, entre os raios, a poucos metros, a figura de um senhor imponente, vestido com túnica típica de sacerdotes. O recém-chegado foi direto ao assunto.
Está mesmo disposto a trabalhar na mediunidade?
- Sim, se os bons espíritos não me abandonarem.
- Você não será desamparado, mas para isso é preciso que trabalhe, estude e se esforce no bem.
O senhor acha que estou em condições de aceitar o compromisso?
- Perfeitamente, desde que respeite os três pontos básicos para o serviço.
Diante do silêncio do desconhecido, Chico perguntou:
Qual o primeiro ponto?
A resposta veio seca:
Disciplina.
E o segundo?
Disciplina.
- E o terceiro?
Disciplina, é claro.
Chico Xavier concordou. E o estranho aproveitou a deixa:
- Temos algo a realizar. Trinta livros para começar.
O rapaz levou um susto. Como iria comprar tinta e papel? Quem pagaria a publicação de tantos títulos? O salário de caixeiro no armazém de Felizardo mal dava para as despesas de casa, os 13 mil-réis mensais eram gastos com catorze irmãos; seu pai era apenas um vendedor de bilhetes de loteria.
Chico arriscou uma previsão.
Papai vai tirar a sorte grande?
O forasteiro encerrou as apostas:
- Nada, nada disso. Sorte grande mesmo é o trabalho com fé em Deus. Os livros chegarão por caminhos inesperados.
O roteiro estava escrito. Restava ao matuto de Pedro Leopoldo seguir as instruções. Seus passos, tropeços e quedas, muitas quedas, seriam acompanhados de perto por aquele estranho a cada dia mais íntimo, O nome dele: Emmanuel,
o mesmo que tinha se apresentado a Carmem Perácio quatro anos antes. A missão: guiar o rapazote e evitar que ele fugisse do script traçado no além. Chico deveria colocar no papel as palavras ditadas pelos mortos e divulgar, por meio do livro, a doutrina dos espíritos." (As Vidas de Chico Xavier", Marcel Souto Maior, Edit. Planeta)

* A equipe de Espíritos chefiada por Emmanuel, e principalmente este, devido a grandeza e peculiaridade da tarefa, provavelmente possui (ou possuía) atmosfera espiritual colorida a lembrar um arco-íris, como dizia Chico, pois de uma forma incompreensível para nós, as imagens ilustrativas de suas páginas foram sendo adornadas invariavelmente com um arco-íris. Podemos dizer mais: fazer isso tornou-se algo quase irresistível, enquanto que os fundos (ou backs) pendiam sempre para o marrom, a lembrar chão, terra. Por não compreender-lhe o motivo, retiramos o arco-íris de quase todas ilustrações, preservando apenas a desta página; da página que apresenta Emmanuel em sua encarnação como Manoel da Nóbrega (onde o desejo de inserir imagens da fauna e flora brasileira, exuberante e colorida nos tons do arco-íris, também foi algo quase irresistível) e a que ilustra a página ainda em construção "Anjos do Brasil", dedicada aos Espíritos que velam pelo Brasil desde as suas primeiras horas, dentre eles Emmanuel. (Lori, Instituto André Luiz).



Tudo nos fala de Deus



Tudo nos fala de Deus, o visível e o invisível. A inteligência o discerne; a razão e a inteligência o proclamam.

Mas o homem não é somente razão e consciência: é também amor. O que caracteriza o ser humano, acima de tudo, é o sentimento, é o coração. O sentimento é privilégio da Alma; por ele a Alma se liga ao que é bom, belo e grande, a tudo que merece sua confiança e pode ser sustentáculo na dúvida, consolação na desgraça. Ora, todos esses modos de sentir e de conceber nos revelam igualmente Deus, porque a bondade, a beleza e a verdade só se acham no ser humano em estado parcial, limitado, incompleto. A bondade, a beleza e a verdade só podem existir sob a condição de encontrar seu princípio, plenitude e origem em um ser que as possua no estado superior, no estado infinito.

A idéia de Deus impõe-se por todas as faculdades do nosso Espírito, ao mesmo tempo em que fala aos nossos olhos por todos os esplendores do Universo. A Inteligência suprema se revela a causa eterna, na qual todos os seres vêm haurir a força, a luz e a vida. Aí está o Espírito Divino, o Espírito Potente, que se venera sob tantas denominações; mas, sob todos esses nomes, é sempre o centro, a lei viva, a razão pela qual os seres e os mundos se sentem viver, se conhecem, se renovam e elevam.

Deus nos fala por todas as vozes do Infinito. E fala não em uma Bíblia escrita há séculos, mas em uma bíblia que se escreve todos os dias, com esses característicos majestosos que se chamam oceanos, montanhas e astros do céu; por todas as harmonias, doces e graves, que sobem do imo da Terra ou descem dos espaços etéreos. Fala ainda no santuário do ser, nas horas de silêncio e de meditação. Quando os ruídos discordantes da vida material se calam, então a voz interior, a grande voz desperta e se faz ouvir. Essa voz sai da profundeza da consciência e nos fala dos deveres, do progresso, da ascensão da criatura. Há em nós uma espécie de retiro íntimo, uma fonte profunda de onde podem jorrar ondas de vida, de amor, de virtude, de luz. Ali se manifesta esse reflexo, esse gérmen divino, escondido em toda Alma humana.

Por isso a Alma humana se constitui o mais belo testemunho que se eleva em favor da existência de Deus; é uma irradiação da Alma Divina. Contém, em estado de embrião, todas as potências, e seu papel, seu destino consiste em valorizá-las no curso de inúmeras existências, em suas transmigrações através dos tempos e dos mundos.

O ser humano, dotado de razão, é responsável, é suscetível de se conhecer e tem o dever de se governar. Como disse João Evangelista: “A razão humana é essa verdadeira luz que esclarece todo homem que vem ao mundo.” (João, 1:9). A razão humana, dissemos, é uma centelha da Razão Divina.

É subindo à sua origem, é comunicando com a Razão Absoluta, Eterna, que a Alma humana descobre a Verdade e compreende a Ordem e a Lei universais. Assim, direi a todos: Homens, filhos da luz, ó meus irmãos! Lembremo-nos da nossa origem; lembremo-nos do fim, durante a viagem da vida! Desprendamo-nos das coisas que passam! Liguemo-nos às que per
manecem!

Léon Denis
O Grande Enigma

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Léon Denis na Intimidade



Um traço na obra de Léon Denis é certa estranha e maravilhosa faculdade de ubiquidade. Muitas vezes ele pode estar em si mesmo e naqueles para quem escreve. É quando mais ilumina e mais aquece os corações. Mas existem, também, outros momentos de igual faculdade em que sua identificação com a obra de Kardec é tão perfeita, que já não sabemos mais quem estamos lendo, se um, se outro. Então ele se dirige, sincero e contrito, para Allan Kardec e exclama: “Meu mestre!”

Léon Denis era quase um adolescente quando a doutrina espírita arrebatou para sempre os caudais de sua alma vigorosa.

“Eu tinha 18 anos quando, por volta de 1864, passando um dia pela principal rua da cidade, vi, no mostruário de uma livraria, O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Avidamente o comprei, às ocultas de minha mãe, muito cuidadosa quanto aos assuntos de minhas leituras.”

Mlle. Baumard irá comentar que “o rapaz entusiasta deveria discutir, raciocinar sobre a filosofia kardecista na presença de seus pais que, um após outro, aceitaram essas novas ideias...”

É relevante verificar que as derradeiras linhas ditadas por ele a Mlle. Baumard tenham sido para o prefácio à Biografia de Allan Kardec, escrita por Henri Sausse. Essas páginas derradeiras – apenas cinco! – são ricas de revelações, de melancólicas rememorações, um breve espaço para um demorado adeus. Denis lembra o remoto dia em que fizera aquela furtiva compra e diz com a surpreendente convicção de quem, defrontando o fim, não se arrependeu:
“Eu tinha 18 anos quando li O Livro dos Espíritos e isso foi, para mim, uma súbita iluminação de todo o meu ser. Eu não exigi provas a uma doutrina que respondia a todas as questões, resolvia todos os problemas de maneira a satisfazer a razão e a consciência.”

Não nos é difícil imaginar no austero dormitório do nº 19, Place des Arts, o silêncio riscado pela pena de Mlle. Baumard sobre o papel e a voz do jovem de 81 anos, que dita pela derradeira vez:

“Eu encontrei várias vezes Allan Kardec sobre o plano terrestre. A primeira vez foi em Tours, quando ele veio, ao curso de uma viagem de conferências. Tínhamos alugado uma sala para o receber, mas a polícia imperial, desconfiada, interditou-nos o seu uso. Foi preciso que nos reuníssemos no jardim de um amigo, à luz das estrelas. Éramos bem trezentas pessoas de pé, apertadas, pisando as platibandas, mas felizes por ver e ouvir o mestre, assentado em meio a nós, ante uma mesinha e que nos falava do fenômeno das obsessões.
No dia seguinte, quando fui levar-lhe os meus cumprimentos, encontrei-o nesse mesmo jardim, trepado num escabelo, colhendo cerejas para a Sra. Allan Kardec. Esta cena bucólica cheia de encanto contrastava com a gravidade dos personagens. Mais tarde encontrei-o em Bonneval, Eure-et-Loire, onde fora participar de um meeting [i] espírita que reunia todos os adeptos da região. Finalmente em Paris, ao curso de minhas viagens, pude trocar ideias com ele sobre a causa que nos era tão cara.”
Aqui cabe um pequeno parêntese para uma conotação de interesse histórico. Há apenas três pinturas feitas ao vivo, na vida inteira de Allan Kardec, três clarões iluminando a intimidade do grande renovador, antes que sua biografia se confunda definitivamente no contexto de sua obra: duas cartas de Müller, a datada de 31 de março de 1869, em que registra a visão melancólica do Codificador morto na pequena sala da Passage Sainte-Anne; a outra, de 4 de abril de 1869, em que descreve o cortejo fúnebre ao longo dos bulevares parisienses; o terceiro é esse cartão postal escrito 60 anos depois, fixando o idílio outonal sob a cerejeira.

Não muitas linhas além, encontram-se as observações que motivaram, passados mais 50 anos, os nossos comentários atuais. Inaugurando a obra biográfica de Sausse, Denis volta-se sobre si mesmo e vislumbra meio século de trabalho pela palavra e a pena, na difusão do Espiritismo, bem como o motivo de sua incondicional rendição a esse programa e exclama:
“Ademais, as provas estavam em mim mesmo! Eram como vozes longínquas a me falarem de vidas quase de todo apagadas, a evocação de um passado esquecido. Todo um mundo de lembranças se despertava em mim, com seu cortejo de males, de sangue e de lágrimas.”

Na Revue Spirite de janeiro de 1923, sob o título de “L’Spiritisme: la Theorie et les Facts”, o filósofo faz as seguintes revelações:
“Dos espíritos que me protegem, eu tenho um privilégio terrível, que não desejaria a ninguém, pois pode tornar-se causa de sofrimentos morais, uma amarga fonte de lamentações: trata-se do conhecimento de vidas anteriores. A esse respeito eu recomendo a maior circunspecção dos pesquisadores, pois certos espíritos comprazem-se em abusar do nosso desejo de sondar o misterioso passado. A melhor maneira de controlar é encontrar, em si mesmo, os traços desse passado. Importa verificar se os elementos de nossa personalidade moral – aptidão, gostos, tendências, opiniões, generalidades e defeitos – são concordantes com as indicações recebidas, com as funções ocupadas, trabalhos realizados, acontecimentos sofridos. Ora, no que me concerne, essas concordâncias existem. Por exemplo:
Várias vezes, do Além, e com detalhes dois tipos de homem dominam a série já longa de existências minhas: o monge e o soldado, assim como outras personagens mais antigas. Suas vagas silhuetas estão a meio submersas na sombra dos séculos e, entretanto, seus atos sobrevivem, suas repercussões fazem-se sentir até minha vida atual, sob a forma das enfermidades que sempre pesam e que acabrunham a minha velhice. Aí estão, sobretudo, – dizem –, o resultado dos excessos cometidos no passado longínquo, ao curso das guerras de invasão.
No que toca a esse passado, a dúvida não é possível. Em minha vida atual fui isentado de todo serviço militar, em face a fraqueza de minha vista. Entretanto, em 1870, sentindo que poderia prestar um serviço qualquer, alistei-me como voluntário. Em quinze dias aprendi o manejo das armas e completei o curso da escola de pelotões, de maneira a servir de instrutor nos quadros do meu batalhão.
No espaço de seis meses tornei-me, sucessivamente, sub-oficial, sub-tenente, lugar-tenente e estaria ainda progredindo em graus, se a paz não se tivesse feito. Ora, meu pai não foi soldado e nada na vida presente havia me preparado para a função de armas.
O beneditino, e talvez também o religioso de São Bernardo, se encontram em mim.
Reúno todos esses ensinamentos idênticos que me foram dados a esse respeito por diferentes médiuns, distanciados milhas uns dos outros, porém, insisto sobre a necessidade de manter uma grande prudência nessas matérias. Todavia, posso constatar no encadeamento de minhas vidas terrenas, o efeito dessa grande lei de justiça e de evolução que rege todo o destino humano.

“Há uma misteriosa ligação entre o discípulo e o mestre? Reparemos em que meu nome está incrustado no de Allan Kardec que, na realidade, se chamava: Hippolyte Léon Denisard Rivail.”
... Vidas quase de todo apagadas... Um passado quase esquecido... Uma misteriosa ligação...

Eruditos e estudiosos que tiveram acesso aos documentos particulares da Sociedade Espírita de Pais afirmam que os espíritos teriam revelado a Allan Kardec, aquém de sua encarnação como druida, sua vida na Boêmia, sob a personalidade de Jan Huss. Nesse caso encontramos uma valiosa pista para a compreensão dessas “vidas quase de todo apagadas e dessa misteriosa ligação” através de Jerônimo de Praga, guia espiritual de Léon Denis e que foi, igualmente, o maior amigo e o mais eminente discípulo de Jan Huss. Principalmente no crepúsculo da vida do escritor, quando Denis preparava seu derradeiro livro, O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, e se preparava, ao mesmo tempo, para abandonar o cenário de suas lutas terrenas, Jerônimo e Kardec parecem volitar incessantemente em torno do octogenário alquebrado e cego, de tal sorte que a última mensagem espiritual recebida por Denis se torna em um verdadeiro anúncio e, ao mesmo tempo, numa consagração. Parte de Kardec e diz:

“... Correspondestes às expectativas ocultas da vontade divina e no reino da luz respirais...”

Não o futuro do verbo, mas o presente. E Léon Denis compreendeu essa sutil intenção. Eis a observação de Mlle. Baumard:
“O mestre tinha o costume de ouvir a leitura das comunicações recebidas no dia posterior ao das sessões. Dessa vez não procedeu assim e foi só depois de seu decesso que essa mensagem assumiu, diante de nós, seus discípulos, sua verdadeira significação...”
A irrupção de Jerônimo de Praga na vida de Léon Denis deu-se no dia de Finados, 2 de novembro de 1882. O escritor, então com 36 anos, encontrava-se em um arrabalde, Mans, reunido a um grupo de operários espíritas. Em sua obra O Mundo Invisível e a Guerra, encontramos essa narrativa:
“De certo nenhum dos outros assistentes conhecia a história do apóstolo tcheco. Eu bem sabia que o discípulo de Jan Huss fora queimado vivo, como o seu mestre, no século XV, por ordem do Concílio de Constança, mas não pensava em nada disso naquele momento. Em pensamento posso ainda ver a humilde estância em que fazíamos a sessão, em número de dez pessoas, em volta de uma mesa de quatro pés. Apenas dois obreiros mecânicos e uma mulher nela apoiavam as mãos rudes e escuras. E eis que o móvel ditou por movimentos solenes e ritmados:
“Deus é bom! Que sobre vós se espalhe a sua bênção, como o benéfico orvalho, pois as consolações celestes não se distribuem senão aos que procuram a justiça. Lutei na arena terrestre, mas desigual era a luta. Sucumbi, porém das minhas cinzas surgiram defensores animosos; marcharam pela estrada que eu pratiquei. São todos meus filhos muito amados.

Jerônimo de Praga”

terça-feira, 10 de abril de 2012

capítulo XXI - Identidade dos Espíritos


Objeta-se muitas vezes aos espíritas que as comunicações, em seu conjunto, apresentam um caráter muito vago, são destituídas de indicações, revelações e fatos bem definidos, suscetíveis de estabelecer a identidade dos manifestantes e impor a convicção aos investigadores. Certamente, não é possível desconhecer essas dificuldades. Elas são inerentes à própria natureza das coisas e às diferenças de meio. Os seres que vivem num mesmo plano, como os homens, dotados dos mesmos sentidos, comunicam entre si por diferentes processos, que são outros tantos elementos de certeza. Esses diferentes modos de observação e verificação utilizáveis no habitat humano, nós o quereríamos tornar extensivos ao domínio do invisível, e exigimos de seus habitantes manifestações assaz probatórias, de uma precisão igual às que asseguram nossa convicção na ordem física. Ora, eis aí uma coisa quase irrealizável. O habitante do plano invisível tem que vencer muitos obstáculos para se comunicar. Os meios de que dispõe para nos esclarecer e persuadir são restritos. Ele não se pode manifestar sem médium e o médium, inconscientemente, introduz quase sempre uma parte de si mesmo, de sua mentalidade, nas manifestações.


O Espírito que quer exprimir seu pensamento serve-se de órgãos estranhos, experimenta grande embaço. É semelhante a uma pessoa que conversasse conosco numa situação muito incômoda que a privasse do uso de suas faculdades. É preciso conduzir-se discretamente a seu respeito, formular perguntas claras, mostrar paciência, benevolência, a fim de obter satisfatórios resultados.
“Meus caros amigos – dizia George Pelham a Hodeson e Hart – não me considereis com ânimo de críticos. Esforçar-nos por transmitir-vos nossos pensamentos, mediante o organismo de qualquer médium, é como se tentasse subir pelo tronco de uma árvore oca.” Robert Hyslop o repete a seu filho: “Todas as coisas se me apresentam com tanta clareza, e quando venho aqui para exprimi-las, James, não posso!”
O que diziam os Espíritos da Sra. Piper, afirmava-o o Guia do nosso grupo nestes termos: “No Espaço, tudo é para nós amplo, desembaraçado, fácil. Quando baixamos à Terra tudo se restringe, se amesquinha.”
Outra objeção é esta: na maior parte dos casos de identidade assinalados, os fatos e as provas, por meio dos quais se conseguiu determinar com certeza a personalidade dos manifestantes, são de natureza comum, às vezes mesmo trivial.

Léon Denis - No Invisível